Carta do Presidente do GAFCON - Março 2017 (Português)

Carta do Presidente – Março de 2017

Aos fiéis do movimento GAFCON e amigos do Arcebispo Nicholas Okoh, Metropolitano e Primaz de toda a Nigéria e Presidente do Conselho dos Primazes da GAFCON

 

Meu querido povo de Deus,

Como destaquei em minha última carta, por causa de nossa história compartilhada, os eventos na Igreja da Inglaterra têm um significado especial para toda a Comunhão Anglicana. É por isso que, neste mês, preciso comentar sobre o voto do Sínodo Geral, em 15 de fevereiro, de não “tomar nota” do relatório da Casa dos Bispos a respeito dos assuntos relacionados aos temas de casamento e sexualidade.

Tal gesto é normalmente uma mera formalidade que precede o debate. Neste caso, pessoas dos dois lados do argumento sobre sexualidade perceberam que o relatório tentou encarar o tema de duas maneiras.  Felizmente, recomendou que não deveria haver mudanças na doutrina do casamento, mas resguardou a possibilidade de que isso poderia mudar no futuro e que, no presente, alinhado às atuais práticas, deveria haver o “máximo de liberdade” pastoral dentro do escopo legal existente.

Seguindo essa repreensão à Casa dos Bispos, os Arcebispos de Canterbury e York, emitiram uma carta que parece entrincheirar a contradição. Eles chamam a uma “radical inclusão de novos Cristãos na Igreja”, que não só se baseia nas fontes tradicionais da autoridade Anglicana, mas ainda sobre o que descreveram como “uma compreensão de ser humano e de ser sexual no século 21”.

Mas a inclusão que o evangelho oferece tem sempre sido radical. Todos estamos incluídos na natureza caída do homem e, ainda assim, inclusos no Reino de Deus através do arrependimento e da fé no Cristo crucificado. E enquanto nós estivermos incluídos no Reino de Deus através da Graça de Deus,precisamos lembrar que essa não é uma graça barata e que existe um grande abismo entre a moralidade da Bíblia e a sexualidade moral neo-pagã, que agora domina o Ocidente. Nós precisamos ser tão claros hoje quanto os apóstolos o foram para as Igrejas do Novo Testamento, deixando evidente que uma nova vida com Cristo significa uma quebra radical com as práticas e estilos de vida do mundo.

No entanto, alguns Bispos têm sido rápidos em abraçar a iniciativa a partir de sua própria interpretação dessa "radical inclusão de novos Cristãos". Por exemplo, o Bispo de Manchester tem chamado para algo "muito maior do que a máxima liberdade" recomendada pelo relatório da Casa dos Bispos, enquanto o Bispo de Selby (um sufragâneo da Diocese de York), tem declarado que "A visão majoritária do Sínodo, portanto, é a de que nós precisamos explorar, mais a frente,  um caminho mais criativo para relacionamentos humanos fidedignos, ao invés de permanecer onde nós estamos".

O efeito do voto no Sínodo Geral depende de como ele é interpretado. Isto pode ter sido uma oportunidade de reafirmar os ensinos apostólicos acerca do casamento e da sexualidade, mas a fala dos Arcebispos sobre a inclusão radical e o subestimado século 21 tem dado grande encorajamento para aqueles que querem trazer a Igreja da Inglaterra para uma posição de maior alinhamento com os valores da sociedade secular.

O resultado é que a mente histórica e bíblica da Igreja, como expresso pelos Bispos da Comunhão Anglicana por meio da Resolução Lambeth I.10 de 1998, está agora sendo degradada a algo provisório e secundário. Nós devemos muito aos Cristãos da Grã-Bretanha e não menos à Igreja da Inglaterra, então é bastante angustiante ver toda a confusão que está agora em risco de ser espalhada pelo resto da Comunhão.

No entanto, ainda há esperança. Como a GAFCON UK já havia recomendado, "A Confusão criada pelo voto do Sínodo Geral em 15 de fevereiro deixa abundantemente claro que uma nova visão do que o Cristianismo Anglicano na Inglaterra é ou deveria ser, é agora necessária." O GAFCON existe para prover uma nova visão de uma vibrante parceria em missões para a Comunhão Anglicana como um todo. Nenhum dos fiéis Anglicanos serão abandonados ou deixados para trás.

Em tempos difíceis como estes, é importante recuperar a perspectiva bíblica de que "não temos aqui nenhuma cidade permanente, mas buscamos a que há de vir" (Hebreus 13.14). O que nos define não é um lugar, mas uma pessoa, o Senhor Jesus Cristo, e nossa última autoridade não é uma instituição humana, mas a Palavra de Deus. Nós nos reunimos em Jerusalém, em 2006, no lugar que testemunhou os poderosos atos de Deus na morte e na ressurreição de seu Filho e de onde os apóstolos foram enviados para toda a terra. Nós devemos retornar no próximo ano cheios de gratidão a Deus por seu contínuo favor, mas nossos olhos estarão sobre a santa Jerusalém, a Cidade de Deus, da qual somos membros pela graça e para a qual ansiamos sua total revelação quando do retorno de Jesus.

Enquanto isso, mantenhamo-nos sempre em oração por aqueles que têm sofrido tribulações em nossa família Anglicana. A Igreja da Nigéria e outras Anglicanas ao redor do mundo enviaram recentemente fundos para ajudar a Diocese Marsabit, no norte do Quênia, e parte da Igreja de Uganda, que vivem assoladas por uma severa seca, que afeta toda uma região de abrigo a refugiados. Por favor, ore por chuva e pelo suprimento de Deus. Aqui na Nigéria nós também estamos enviando materiais de alívio para as vítimas dos assassinatos no Sul de Kaduna, que continuam acontecendo.

Finalmente, eu gostaria de registrar que a Igreja da Nigéria perdeu, lamentavelmente, para a morte, um de seus corajosos Bispos no eixo Nordeste, o Reverendíssimo Emmanuel Kana Mani. Ele será cremado no dia 15 de março de 2017, em Maiduguri.

Reverendíssimo Nicholas D. Okoh

Arcebispo, Metropolitano e Primaz de toda a Nigéria e Presidente do Conselho de Primazes da GAFCON